sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

UM COPO DE SUCO DE UVA


A noite estava particularmente quente, nada que fosse muito diferente do que já estamos acostumados por aqui.  Uma noite como esta com dificuldade traz um sono tranquilizador.  Levantei procurando algum refrigério.  O calor pegajoso aliado ao sono irregular sempre sugere uma busca na cozinha.
Por outro lado, abandonar a cama no meio da madrugada nunca foi a opção mais atrativa, mas aquela situação se impunha diante do comodismo da noite.  Sem muita inspiração para incursões alimentares e com a mente ainda dividida entre o sono e o calor, abri a geladeira e deixei os olhos vaguearem aleatoriamente.
Neste ponto da narrativa, aparece o copo de suco de uva.
Bem no canto do interior da geladeira estava ele: vermelho, fascinante, convidativo.  Sabia que não se tratava de suco da própria fruta in natura – comum e inigualável – nem vinho: apenas um resto de suco de uva de garrafa, daqueles que podem ser encontrados em qualquer supermercado, recolhido num copo para que ocupasse menos espaço.
Recolhi-o com cuidado e entendi que nada melhor havia naquele contexto.  Sem pressa bebi quase que transformando a experiência em liturgia.  Apesar de aquele copo não me fornecer qualquer sensação olfativa e o silêncio da noite insistir em zumbir aos meus ouvidos, um copo de suco de uva na madrugada quente foi-me uma verdadeira bênção.
Não sei se pelo gosto levemente adocicado ou pela simples sensação do líquido gelado descendo garganta abaixo, mas aqueles momentos se configuraram como fragmentos de eternidade!
Voltei para a cama glorificando a Deus pela alegria de um copo de suco de uva.  E o sono me foi oferecido finalmente.


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