terça-feira, 13 de março de 2018

COMPROMISSO E MISSÃO – 1ª parte


Considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.

O texto de Orlando Costas trata de um assunto “velho”, mas não “ultrapassado” – como chama a atenção o Prof. Bonilla na apresentação do trabalho. Compromisso e Missão é uma reflexão sobre a missão da igreja neste mundo de incertezas em que vivemos. Esta é a proposta do livro que está contida no subtítulo e a empreitada a que Costas – um teólogo porto-riquenho – se propõe nesta obra: uma reflexão sobre os desafios e implicações de missão da igreja no contexto histórico e de vida em que ela vive. Mas o texto não é simplesmente uma observação, mesmo que criteriosa, de fatos e contextos; é uma significativa reflexão teológica sobre o papel que a igreja tem a desempenhar dentro do projeto do Reino de Deus.
Segundo o próprio Costas, “o presente tomo surge de experiências teológico-pastorais em diferentes partes da América Latina” (p. 7). Assim cada capítulo foi originalmente preparado com objetivos distintos e somente depois foram reunidos neste trabalho. O primeiro capítulo – preparado para um congresso na Costa Rica em 1977 – trata da missão cristã na América Latina hoje. Os capítulos seguintes tratam da missão como atividades a serem desenvolvidas e vivenciadas pela igreja: proclamação; discipulado; mobilização; crescimento integral; libertação e celebração. Mas a reflexão sobre a missão da igreja deve conduzir-nos a uma visão e reafirmação do compromisso da igreja em missão com aqueles os quais “o mesmo Jesus Cristo se comprometeu” (Bonilla, p. 13).
Como se apresenta na América Latina hoje a missão cristã? Como se entende e que forma toma?
Refletindo sobre estas questões Costas apresenta duas categorias que ajudam a compreender como se apresenta hoje a missão da igreja na América Latina: “tradição” e “reconstrução”. Tradição é o processo de formulação e reformulação que caracteriza a missão na sua passagem de geração a geração. Neste aspecto a missão e a tradição andam de braços dados e conduzem a uma nova reflexão sobre a igreja e seu papel dentro da história. Por isto mesmo, toda tradição missional da igreja deve conduzi-la a uma reconstrução – reconstrução tanto da sociedade que precisa ser alcançada pela missão cristã como da própria missão em si com seus vários aspectos.
Na história da missão cristã protestante na América Latina a reconstrução sempre se mostrou como a via condutora que conduziu a igreja. As missões protestantes que chegaram a América Latina formaram-se, na sua grande maioria, com propostas de modelos “civilizador” e “evangelizador” (citando J.M. Bonino, p. 17). Costas comenta:
Estes dois modelos de reconstrução missional tinham, certamente, seus pontos de contato. Ambos procediam de mesmo ambiente geográfico-cultural: o mundo anglo-falante. E ambos se haviam feito possível econômica e politicamente graças ao movimento liberal modernista do século XIX (p. 18).
Vale aqui concordar com as observações do autor. As condições sociais e histórica peculiares do século XIX conduziram o cristianismo protestante, principalmente inglês e norte americano, a engajar-se no projeto de missionário. Paralelamente ao esforço de ganhar o mundo para Cristo, a empresa missionária protestante típica do século XIX, ocupou-se na criação de orfanatos, hospitais e principalmente escolas que serviriam para divulgar e fomentar as idéias do cristianismo anglo-saxão que chegavam como proposta civilizatória. Lembrando Max Webber: a ética protestante se apresentava como a fórmula que levaria os países latinos americanos ao progresso tão almejado, como o tinha feito nos países do norte da Europa e nos EUA. É neste contexto que Costas observa que a visão evangelizadora da missão propunha uma reconstrução da “imagem da igreja como instituição centrípeta e clerocêntrica em comunidade centrífuga e laicocêntrca” (p. 21).
Aqui floresce então um pentecostalismo, como expressão de uma cristianismo carismática que irá trazer sempre a tona os impasses entre o novo e o velho na vida da igreja. Ou seja, o cristianismo que chegou com as missões protestantes traziam no seu bojo uma proposta inovadora de progresso humano e social; ao se estabelecer formulou sua própria tradição que, por isto mesmo, tende a se institucionalizar e cristalizar. Costas observa:
Essa realidade se move entre o desejo e luta por novas formas de entender e efetuar a missão cristã entre os grandes desafios continentais, e o zelo e luta por conservar o legado missional de nossos antepassados. E entre essa dialética vive (e morre) a missão cristã na América Latina Hoje (p. 26).

Leia mais:
1. A MISSÃO COMO PROCLAMAÇÃO
2. A MISSÃO COMO DISCIPULADO
3. A MISSÃO COMO MOBILIZAÇÃO
4. A MISSÃO COMO CRESCIMENTO INTEGRAL
5. A MISSÃO COMO LIBERTAÇÃO
6. A MISSÃO COMO CELEBRAÇÃO

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