terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Os Grandes Princípios Batistas – O SACERDÓCIO UNIVERSAL DE TODOS OS SALVOS

Desde o início, os batistas partilharam com os vários grupos insatisfeitos com o protestantismo e com os separatistas, os insatisfeitos da Igreja da Inglaterra, a rejeição de um clero.  Isto é o que se chama “a doutrina do sacerdócio universal de todos os salvos”.  Num certo sentido, não temos sacerdotes entre nós.  Isto no sentido de alguém com mais acesso a Deus do que os demais.  Noutro sentido, todos somos sacerdotes porque todos temos acesso a Deus, sem necessidade um mediador humano.
O pastor não é um sacerdote.  Sua oração vale tanto, aos olhos de Deus, como a oração do zelador da igreja, desde que este seja crente.  A oração do crente é ouvida por causa da graça de Deus, da mediação de Jesus e da intercessão que o Espírito faz por nós, junto à Trindade.  A identidade batista é fortemente marcada por esta concepção teológica: o sacerdócio universal de todos os salvos, em conseqüência do livre acesso que todos nós temos à presença divina.
No entanto, esta doutrina tão valiosa está sendo diluída em nosso meio.  Isto sucede por causa do entendimento de que temos um clero e um laicato.  Todos nós somos ministros, pois todos somos servos.  E todos somos leigos, porque todos somos povo (é este o sentido da palavra “leigo”, alguém do povo).  Não temos clero nem laicato, como batistas.  Somos todos ministros e somos, todos, povo.  Mas isto tem sido esquecido, porque, cada vez mais, a igreja mergulha no Antigo Testamento e não no Novo.  Usamos os termos do Novo com a conotação do Antigo.  Muita gente prega o Antigo Testamento sem analisá-lo pelo Novo Testamento.  Assim, o pastor do Novo Testamento passa a ter a conotação do sacerdote do Antigo Testamento.  É o “ungido”, o detentor de relação especial com Deus que os outros não têm.  Só ele pode realizar certos atos litúrgicos, como se fosse o sacerdote do Antigo Testamento.  Por exemplo, batismo e ceia só podem ser celebrados por ele.  Assumimos isto, mas não é uma exigência bíblica.  Convencionamos isto.
No meio carismático isto é mais forte.  Os pastores tornam a igreja dependente deles.  Só eles têm a oração poderosa, a corrente de libertação só pode ser feita por eles e na igreja, só eles quebram as maldições, etc.  O sentido teológico do sacerdote hebreu permeia o sentido teológico do pastor neotestamentário.  Isto convém ao pastor neopentecostal.  Ele se torna um homem acima dos outros, incontestável, líder que deve ser acatado.  Tem uma autoridade espiritual que os outros não têm.  Ele tem uma linha vermelha com Deus.  Ora, se há algo que aprendemos sobre a liderança nos dois Testamentos, é que o Antigo elitiza a liderança e o Novo a democratiza.  Para o neopentecostal, o Novo Testamento, a mensagem da graça e a eclesiologia simples, despida de objetos, palavras e gestual sagrados não são interessantes.  Assim, ele se refugia no Antigo Testamento.  Por isso há igrejas evangélicas com castiçais de sete braços e estrelas de Davi no lugar da cruz.  Outras desfraldam a bandeira de Israel (e omitem a brasileira), guardam festas judaicas, e têm incensários em seus salões de cultos.  Há evangélicos que parecem frustrados por não serem judeus.  A liturgia pomposa do judaísmo é mais atraente e permite mais manobra ao líder que se põe acima dos outros.  E com isso, os membros da igreja são os ajudantes do obreiro.
Em Portugal, um diácono, conversando comigo, queixou-se da mentalidade católica infiltrada nas igrejas batistas.  O pastor era um sacerdote e os diáconos, seus coroinhas.  No meio neopentecostal, parece que o pastor é um executivo espiritual e os membros, os pagadores de contas.  Lutero tentou apagar o conceito católico de que a Igreja era a liderança, o clero.  Para ele, igreja era o povo e não a instituição, representado por seu clero.  Ele não gostava da palavra kirche para igreja, porque enfatizava a instituição.  Preferia gemeinde, que dá a idéia de comunidade.  Ele queria a ênfase no povo.  O povo é a igreja e o povo é sacerdote.  Não há pessoas credenciadas para terem mais acesso a Deus, em detrimento de outras.  Não há sangue azul espiritual nem uma plebe espiritual.  Deus trata seus filhos por igual, por causa da pessoa de Jesus Cristo
Tudo isto pode ser resumido no expediente de um boletim de uma igreja batista dos Estados Unidos.  Lá constava: “Ministros da Igreja: todos os crentes.  Auxiliar dos ministros: o Pastor da Igreja”.  Deus não deu a tarefa de fazer a obra aos pastores, a não ser a tarefa de serem pastores.  A tarefa de fazer a obra foi dada à Igreja como um todo.  E o Espírito foi dado a todos e não apenas aos pastores.

Extraído de uma palestra preparada pelo Pr.  Isaltino Gomes Coelho Filho (1948-2013) para um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009.

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