terça-feira, 9 de agosto de 2016

MAQUIAVEL E A RELIGIÃO

Nicolau Maquiavel nasceu em 1469 em Florença / Itália, de uma família rica da cidade e que tinha aspirações de primazia de Florença sobre as demais cidades italianas.  Vivendo num mundo em constantes e estrondosas transformações históricas e sociais – ele foi contemporâneo  da Reforma Protestante e das grandes navegações europeias – foi educado no humanismo renascentista e viu o ser humano tomar o primado do pensamento em lugar do Deus medieval que dominava até então.
Sem conseguir a notoriedade que almejava em vida – sua principal obra só foi publicada postumamente – Maquiavel morreu aos 58 anos, doente e frustrado.
Quanto à sua compreensão da religião, Maquiavel sabia que o aspecto religioso é uma das marcas distintivas de um povo, e para se fazer uma análise política deste é mister considerar-lhe o dado religioso.  Assim, ele permeou todos os seus comentários de observações sobre a vida religiosa romana, não somente no período pagão como também depois da inserção do cristianismo e a transformação deste em religião oficial com a consequente aquisição do poder estatal pela Igreja.
No seu texto Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio (1531), Maquiavel afirmou que a autoridade do príncipe não lhe é suficiente para garantir a sua força e seu sucesso, então se faz necessário recorrer à religião para que tal força e sucesso possam ser conquistados e mantidos.  Nas suas próprias palavras:
Se a observância do culto divino é a fonte da grandeza dos Estados, a sua negligência é a causa da ruína dos povos.  Onde não exista o temor a Deus, o império sucumbirá, a menos que seja sustentado pela fé de um príncipe capaz de se apoiar na religião.
Em relação à península italiana, Maquiavel entendia que dois momentos são facilmente observáveis.  No princípio, a religião pagã surgiu como elemento de devoção para unir o povo.  O sentimento de devoção gerou no povo um espírito de respeito às instituições republicanas que fez dele um povo para as grandes conquistas.  Ele continua:
Mas quando os oráculos começaram a tomar partido dos poderosos, e a fraude foi percebida, os homens se fizeram menos crédulos, mostrando-se dispostos a contestar a ordem estabelecida.
Como é importante manter a religião para a grandeza do reino – ou da republica – a Itália foi-se arruinando à medida que o espírito religioso foi-se perdendo devido ao estabelecimento da Igreja Católica Romana na vida pública.  Seguindo Maquiavel, a Igreja Romana, nos seus arredores, abafou a devoção piedosa do povo por optar pelo poder temporal, e ainda mais, não tendo a Igreja o poder suficiente para unificar  a Itália sob sua bandeira, também não deixou que outros a fizessem, como aconteceu nos reinos da França e Espanha.
São do próprio Maquiavel as palavras:
É, portanto, à Igreja e aos sacerdotes que os italianos devem estar vivendo sem religião e sem moral; e lhes devemos uma obrigação ainda maior, que é fonte de nossa ruína: a Igreja tem promovido incessantemente a divisão neste malfadado pais – e ainda o promove.
Diante deste quadro, Maquiavel propôs que para uma religião ou um Estado ter vida longa é necessário se renovar muitas vezes.  Foi a falta desta renovação que causou o enfraquecimento do Império Romano, devido a influência de um igreja centrada em si mesma e adversa a mudanças e renovações.
E não considerando o movimento da Reforma Protestante, Maquiavel preferiu tomar como exemplo dois santos católicos como referências destas mudanças que fariam revigorar a Igreja dando-lhe vida nova e garantindo-lhe a existência e respeito do povo:
Se São Francisco e São Domêncio não tivessem relembrado o espírito com que foi fundada, estaria hoje inteiramente extinta.  Retomando à pobreza e revigorando o exemplo de Cristo, despertaram o espírito cristão dos homens, salvando-os quando já expiravam.  E as novas regras que instituíram mereceram tal crédito que a corrupção dos prelados e dos chefes religiosos não conseguiu arruiná-las.


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