terça-feira, 1 de março de 2016

MINHA PRIMEIRA ÓPERA

A primeira vez que eu ouvi uma ópera inteira foi lá pelo anos 1980.  Para dizer o dia certo, já não consigo – faz tempo!  Naquela época eu acabara de me mudar para o Recife e alguns bons amigos eram músicos. A maioria ainda estudante, também de música, e algumas vezes eu era o único não-músico do grupo, mas a convivência era boa e sempre fui bem aceito ali.
O que me lembro é que era um sábado à tarde e fomos para a casa de uma colega assistir em VHS (imagina o tempo!).  Ela tinha locado – sim, na época se fazia isso! – uma fita e seria o programa da tarde e noite do sábado.  E tinha pipoca também.
Eu lembro ainda de particularmente estar empolgado com a ideia, pois seria meu debut e a companhia de gente da área ajudaria.  Mas tinha um outro lado: era como um rito de passagem e eu, pouco mais que um adolescente, precisava daquilo para ser "parte" do grupo.
Fui, vi e, principalmente, ouvi.
Hoje, olhando para trás, reconheço que a gravação não era primorosa, nada de imagem ou som digital – não se tinha isso na época.  Além de que, como logo cheguei a perceber, era uma ópera cantada em italiano em um vídeo legendado em francês.
— Agora, imagine entender alguma coisa!?
A ópera era Nabuco, do italiano Guiseppe Verdi e, até por ter sido a primeira vez, aquela experiência nunca mais saiu da minha cabeça. 
É claro que depois daquele dia já ouvi outras peças clássicas.  No teatro inclusive várias vezes.  O tempo e as circunstâncias me proporcionaram manter aquelas amizades e desenvolver outras com bons músicos: pessoal de orquestra e coro – o que ajudou a continuar ouvindo música boa.
Mas a primeira, sempre será a primeira.
Agora, escrevendo estas linhas, fiz questão de não consultar especialistas, nem buscar na internet informações mais detalhadas sobre a obra, nem ao menos ouvi-la mais uma vez.  O que eu quero aqui é deixar que as lembranças daquela tarde de sábado apareçam no texto.
Bem, estou ciente que a esta altura talvez as lembranças daquela tarde já tenham se misturado com outras que fui recolhendo ao longo do caminho e seja difícil distingui-las agora.  Mas tudo bem!  Vamos lá:
Enquanto os músicos-ouvintes se dividiam entre ouvir e comentar o que se via na telinha da TV, eu apenas me deixei levar por aquele som novo.  Meio na dúvida, confesso hoje (mas naquele dia jamais confessaria).
Então, a verdade é que fui tomado – ou absorvido – pela dramaticidade, teatralidade e intensidade da ópera.  A música é poderosa! como diria o personagem Edward Lewis no filme Pretty Woman (já escrevi sobre este estado de arte: leia aqui).
Lembro de terem falado enquanto ouvíamos sobre libreto, árias, recitativos, mezzo-soprano, contratenor, largo, alegretto e por aí.  Termos que depois me tornariam familiar, mas que à época apontavam a qualquer região nebulosa da minha mente e pouco, ou quase nada, significavam para mim.
E música prosseguiu.
Ainda lembro vagamente que a história se passava entre os hebreus exilados na Assíria e que entre o enredo havia uma situação romântica entre um oficial assírio e uma garota hebréia – ou seria o contrário, sei lá.  Também já não tenho certeza se esta lembrança remonta àquela tarde ou já a acrescentei depois.  Não importa.
Lá pelas tantas, o coro dos exilados hebreus cantou a dor de viver em terras estranhas.  Aquilo entrou pelos meus ouvidos, acionou qualquer interruptor lá dentro e ecoou.  Claro que não me lembro das palavras da música, mas, ainda assim, nunca mais esqueci de ter me sentido tocado pela situação.  E ainda hoje, quando escuto aqueles acordes, mesmo que poucos deles, a alma vibra em consonância.
Dizer sobre aquela experiência que ela ajudou a formar o que sou hoje, como escuto música, como vivencio a arte, e até como faço teologia é a mais pura verdade.  Foi e é – tem de ser – tocante.
Agora que já compartilhei um pouco da lembrança da primeira ópera, vou procurar ouvir novamente a mesma ópera italiana.  Hoje tenho certeza que posso achar para ouvir e ver em melhor qualidade.

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