quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ADORAÇÃO E LOUVOR – uma visão africana

A adoração e o louvor são dois elementos inseparáveis na vida cristã.  Louvar significa agradecer e honrar a Deus – glorificá-lo especialmente com cânticos e danças.  Pode ser algo simples como a saudação diária Bwana Asifiwe, "Louvado seja o Senhor" , ou elaborado como um festival de louvor de três horas de duração, reunindo cantores e corais cristãos.  Numa igreja africana típica, o culto inclui expressões de reverência como curvar-se, ajoelhar-se com as mãos erguidas acima da cabeça ou prostrar-se diante de Deus (Ne 8:5-6; Ap 4:9-10).
Na religião tradicional africana (RTA), não é costume reunir os adoradores num local fechado como uma igreja ou mesquita.  O culto individual é realizado em um lugar sagrado ao ar livre, como junto a uma árvore ou riacho.  Mas esses lugares não são usados para a reunião semanal de adoradores.  A congregação só se reúne para festas anuais ou sazonais.  Nos lares, o chefe de família realiza rituais simples de adoração entoando nomes que descrevem o caráter de um deus ou ancestral e derramando uma libação diária para um ídolo do lar.  Quer em suas formas simples quer em suas formas mais complexas, o culto na RTA só é considerado completo quando inclui sacrifícios e oferendas.
A RTA também difere do culto cristão no sentido de que raramente adora o Ser Supremo de forma direta.  Antes, os sacrifícios são oferecidos a divindades e antepassados considerados mediadores entre Deus e as pessoas.  Trata-se de um culto utilitário: "Os africanos não anseiam por Deus em si.  Procuram apenas obter aquilo que ele oferece, bênçãos materiais ou mesmo espirituais; não parecem buscá-lo com recompensa ou satisfação suprema para a alma ou o espírito humano" (John Mbiti).
Na RTA, os deuses existem para os seres humanos, e a adoração tem como principais objetivos restaurar o equilíbrio entre a humanidade e os seres espirituais, evitar males como enfermidades, insucessos e esterilidade e aumentar o sucesso.
Muitos desses conceitos tradicionais foram transportados para o cristianismo, como mostra um programa de televisão nigeriano no qual um casal consulta um herbolário acerca de uma soma em dinheiro que alguém lhe deve.  O herbolário dá ao homem uma mistura de ervas e lhe garante que a dívida será paga em breve.  Ao receber o cheque, o casal dança e canta: "Ele é um Deus que opera maravilhas!" – exemplificando o caso de muitas pessoas que vivem com um pé no cristianismo e outro na RTA.  Esse tipo de sincretismo é proibido na Bíblia.
A chave para entender o significado e propósito da adoração no AT pode ser encontrada em Êxodo 20:1-8.  Jesus citou essa passagem quando o diabo o tentou oferecendo todos os reinos do mundo em troca de sua adoração, ao que Jesus respondeu: "Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto" (Mt 4:8-10), deixando claro que o culto segundo as Escrituras só pode ser prestado a Deus.
O culto bíblico é fundamentado na redenção, no relacionamento e na representação.  Esses três elementos podem ser vistos na definição de adoração dada por Cristo: "Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade" (Jo 4:24).  Os adoradores de Deus são remidos pelo sangue do Cordeiro.  Relacionam-se com ele de forma dinâmica como seus filhos e filhas (Jo 1:12) e o representam no mundo como seus embaixadores (2Co 5:20).  A adoração nasce da gratidão (Ap 5:9-10), proclama a grandeza e a glória de Deus (Sl 19:1) e antevê a volta de Cristo (1Co 11:26).

Tokunboh Adeyemo – nigeriano
Comentário Bíblico Africano (2006)

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