sábado, 24 de agosto de 2013

QUANTIDADE DE FÉ

Diante da impossibilidade de os discípulos de Jesus em expulsar um demônio, o próprio Cristo aproveitou a situação para lhes instruir sobre a fé: se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível (Mt 17:20).  É claro que Jesus aqui usa de uma figura de linguagem – método comum no Mestre – pois ele sabia que a fé não pode ser avaliada em termos de unidade métrica.
Então, o que de importante que Jesus Cristo quis ensinar com esta ilustração? 
Em primeiro lugar que a “quantidade” de fé não é o mais importante.  Como fé não se mede, o que realmente importa é se somos capazes de ter fé nele.  A grande diferença entre o grão de mostarda e o monte é a demonstração de que não pode haver uma relação de valor entre eles para que se possa estabelecer uma escala de valores (veja mais em Is 55:9).
Na comparação, Jesus também ensina que é preciso se ter uma compreensão bem clara de nossa impotência e dependência diante das circunstancias da vida e a absoluta suficiência divina para atender às nossas necessidades (considere Jo 15:5).
E finalmente o desafio de Jesus sobre a fé do tamanho de um grão de mostarda e o monte que se ergue a nossa frente dá-nos a possibilidade de perguntar: qual é o monte que temos em nossa vida hoje e que precisa ser passado para outro lado?  O que há de tão impossível em nossa vida?  Onde está nosso monte? 
Seja qual for a resposta dada a estas questões do parágrafo anterior, a lição do grão de mostrada nos ensina que uma fé – qualquer que seja ela – se for verdadeira e em Deus, será suficiente para transportá-lo.  Amém.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

DEUS ALÉM DAS EVIDÊNCIAS

O Salmo 19 é usado tradicionalmente para se referir a uma revelação natural de Deus que pode ser percebida por qualquer ser humano, independente de sua experiência de fé.  Mas vivendo em uma sociedade tecnicista e pragmática como a nossa, gostaria de – a partir da sugestão do Salmo – tentar ver e ouvir Deus bem além das evidências.
Para Davi – o salmista, diferentemente de minha existência hoje que muitas vezes tem se tornada vazia de referências; contemplar os céus possibilitava a sua alma experimentar a completude de uma vida repleta da divindade e significados.  Por isso ele foi capaz de ouvir os céus declarando a glória de Deus.
E quando para mim os céus se parecem vazios? Quando já não ecoam as melodias celestes?  Quando a frieza técnica e científica não me é suficiente para aquecer a existência?  Quando os distantes pontos brilhantes da noite não passam de dados astronômicos e faltam poesias de fé?  Quando sol e lua apenas se sucedem sem apontarem a referência alguma?
Aqui, permita-me tomar como base outra citação bíblica (Hb 12:1-3) para tentar devolver aos céus e ao firmamento a grandeza de anunciar Deus além das evidências.  Creio que as sugestões aos Hebreus podem reascender as palavras do Salmo.  Veja o que elas me dizem:
* Limpe seus olhos e ouvidos para que possa perceber melhor (v. 1).  A vida tem enchido meus olhos de tantos anteparos e meus ouvidos de tantos filtros que às vezes já não sou capaz de experimentar o simples e direto contado com os céus.
* Olhe na direção correta (v. 2).  Sou empurrado a me ocupar com coisas do dia-a-dia e desviar o foco de minha vida daquele que é a razão de minha existência.
* Deixe a imaginação espiritual fluir (v. 3).  Aqui não é uma questão de lógica e raciocínio, mas de ultrapassar os limites razão experimental.  Somente com uma fluência espiritual irrigando a minha imaginação é que os céus novamente voltarão a ecoar a glória de Deus para mim.
Em todo caso, faça destas palavras a sua oração: Senhor, deixa-me contemplar e ouvir a glória divina que ressoa nos céus para que eu possa te perceber em toda a tua grandeza e majestade.  Amem. 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Parábola das coisas – A LOMBADA



As lombadas, aquelas saliências que são colocadas em ruas e estradas também conhecidas como quebra-molas, imagino que elas foram criadas junto com a transformação de nossas cidades ao se privilegiar os carros como ícones máximos da civilização.  Imagino também que sua colocação foi resultado da necessidade de se disciplinar o uso de automóveis frente a outros similares e demais transeuntes.
Mas há aquelas lombadas que não fazem parte de qualquer projeto ou planejamento de trânsito, elas estão ali como inconvenientes: aleatórios e circunstanciais.  São rugas em nossas vias que as enfeiam e maculam e tornam nosso ir-e-vir mais chato e desconfortável.
Seja qual for a sua origem ou a sua configuração, uma lombada é uma coisa que nos serve de parábola para compreender a caminhada da vida.  Acompanhe comigo como acontece: indo ou vindo, dirigindo por estas ruas, a lombada me força a frear, reduzir a marcha, olhar e passar com cuidado.  Depois posso seguir em meu trajeto, até que outra lombada me faça repetir o procedimento e então, finalmente, chegue ao meu destino.
É claro que sei que quando é o caso de lombadas planejadas, a redução de velocidade se mostra necessária e é então, por isso mesmo, forçada.  Mas quando é apenas imperfeição do terreno, pode nem haver justificativa circunstancial, mas resulta no mesmo: tem que passar devagar.
Vejo que assim é a vida.  Enquanto transito por ela, buscando alcançar o meu destino, em diversos momentos me vejo obrigado a passar por lombadas, e então é imperioso frear a vida, reduzir a marcha, olhar e passar com cuidado antes de seguir mais um pouco.  E não importa quem, ou o que, colocou o obstáculo ali.
Mas vou um pouco à frente nesta parábola.  É passando devagar na lombada da vida que tenho a oportunidade de perceber em detalhes da vida que tenho levado, as pessoas que me cercam e a própria estrada da vida que tenho trilhado.  E dando atenção a isso posso inclusive corrigir meus posicionamentos e rotas quando necessário.
Ainda outra observação sobre a lombada que deve-se fazer nesta parábola.  A reação a ela depender não somente do seu tamanho mas também, e em grande parte, do veículo com o qual se trafega.  Se viajo com um off-road, ou algo parecido, as lombadas poderão ser superadas com menos sacrifício.  Se meu carro é um modelo mais delicado e sensível, as imperfeições do terreno haverão de parecer mais incômodas.
Então volto a olhar a vida.  Se já estou calejado, chego a entender que as lombadas são parte integrante da paisagem e as supero como quem prossegue com mais robustez e experiência em direção ao desafio seguinte.  Se a vida me fez frágil, cada nova lombada é um novo suplício a encarar.
Seja como for, parece inevitável que na viagem da vida algumas lombadas estejam espalhadas pelo trajeto – algumas propositais, outras acidentais.  A diferença será como eu passo por cima delas.  Que Cristo – o caminho, verdade e vida – possa me fazer vencê-las e nunca desistir da caminhada.  Para a glória dele.




Você encontra textos como esse no livro PARÁBOLA DAS COISAS

 



Disponível no:
Clube de Autores
Google Play
amazon.com

Conheça também outros livros:
TU ÉS DIGNO - Uma leitura de Apocalipse
DE ADÃO ATÉ HOJE - Um estudo do Culto Cristão

terça-feira, 6 de agosto de 2013

HE TOUCHED ME

"A natureza conspirou a favor dele...!"  Foi assim que um colega me apresentou ao disco com a gravação de canções gospels na voz de Elvis Presley.  Deixei qualquer tipo de preconceito de lado e ouvi com uma emoção venerada e, sem medo do trocadilho, confesso:  ele me tocou!
Antes de comentar a conspiração natural ou o dom excepcional, deixe-me justificar o uso da língua da outra América.  Elvis nasceu no Mississipi – Estados Unidos e citá-lo em inglês me parece dispensar-lhe uma certa reverência merecida (incluo o termo gospel que, no caso, soa bastante apropriado!).
Como disse, Elvis Presley nasceu no interior do Estado sulista do Mississipi em 1935 e cresceu no Memphis sob a influência da música gospel da Assemblies of God e sua interpretação de That's All Right, Mama em 1954 é considerada o marco zero do rock como estilo musical (da sua brilhante carreira como Rei do Rock não quero fazer nenhum destaque – sei que não é difícil encontrar bastante referências).
Novamente já disse: não penso em conspiração natural (embora o termo não agrida meus ouvidos!), mas é inegável que Elvis está entre aqueles seres humanos que o Criador tocou com um dom magnífico e capacidade inigualável.  Ele é uma exceção!  E, independente da vida que levou (ou que o levou), que bom que ele nos brindou com a gravação de algumas pérolas do cancioneiro gospel tradicional norte-americano.  Elas em si já são uma riqueza e na voz aveludada de Elvis são verdadeiros prêmios aos ouvidos e à alma.
He touched me é o nome da canção que intitula o disco gravado entre maio e junho de 1971.  Eu a conheço numa versão em Português e fala da graça de ter sido tocado por Jesus e ter experimentado o coração cheio da paz.  Agora, independente da letra familiar, nem é preciso tradução para que o milagre da música seja real: He touched me and made me whole.
E os hinos se seguem na gravação: I've got confidence, Amazing grace (tradicionalíssimo, cuja tradução literal empobrece o inglês mas aqui está num arranjo fenomenal do próprio Elvis), Seeing is believing ... e mais outros, num total de 12 faixas, terminando com Reach out to Jesus (conhecido hino de R. Carmichal que também cantamos em Português).
Em 1977 um colapso cardíaco levou Elvis Presley.  Entre outras tantas gravações (como esquecer It's now or never!?) – inclusive outras gospels –  prefiro guardar na lembrança o genial Elvis confessando: He touched me!

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

MILAGRE NORMAL!

Zapeando pela internet um dia destes, eu me deparei com uma chamada em letras enormes anunciando o que seria o slogan de uma campanha.  O site em questão se tratava de uma igreja dessas da moda com bastante horário no rádio e na TV.  O slogan dizia: "venha para a igreja ...  aqui o milagre é normal"! (o ponto de exclamação é por minha conta).
É lógico que qualquer leitura, por mais simplista que seja, haverá de admitir o absurdo da situação.  Assumir que o milagre ali é coisa normal equivale a admitir com naturalidade que em tal lugar o normal é entrar para fora, ou o padrão seja descer para cima, ou ainda que se assuma como naturais tais tipos de contra-senso.
Mas, vamos lá...  Só não me apelem para a dita liberdade poética, porque no caso não quero me deixar levar nem por uma coisa nem por outra.  Misturar marketing com poesia nem sempre dá bom caldo...  E não me parece o caso!
Sim, vamos lá...  Deixando de lado a incoerência óbvia da lingüística, deixe-me passar o milagre normal pelo crivo da teologia e da fé cristã. 
Jesus quando esteve aqui entre os homens e desenvolveu seu ministério anunciou um Reino pontilhado de incoerências e contradições.  A começar pela sua própria vida e missão.  Cremos que nele habitou corporalmente toda a divindade (o apóstolo Paulo afirmou isso categoricamente em Cl 2:9).  E como Deus: imortal.  Pois o imortal, esvaziou-se e morreu!
Veja mais.  No Reino onde o imortal se entrega à morte e dá-se à paixão, os primeiros são os últimos, para achar a vida é imperioso perdê-la, felizes são os que choram, compra-se sem dinheiro e o que era e é necessariamente não será, mas há-de vir em glória.  Pois é próprio deste Reino o surpreendente, o inesperado, o milagre!
Assim é quando o inefável graciosamente se coloca ao alcance e pode ser tocado.  Mas continua graça inusitada: não é normal.  É milagre!
Quanto ao marketing eclesiástico? Não vou entrar nesta seara.  Eles que escolham de que lado querem ficar.