quinta-feira, 14 de abril de 2011

HÁ UM RIO

Quando falo da minha origem, digo com certo orgulho que sou nordestino.  Isso me faz achar que tempo bom é chuva no sertão; o melhor lugar para descansar é numa rede debaixo da sombra da mangueira ou do umbuzeiro; mais gostoso do que água de moringa só suco de mangaba ou de caju e para passar o tempo, o bom mesmo é gastar saliva com pitomba.
Mas na verdade eu nasci em Aracaju que é uma cidade litorânea – foi por isso que a construíram e agora está até virando cidade grande... (outro tempo eu volto a falar da minha cidade).  Não sou do sertão ou do agreste e água corrente não é algo totalmente estranho para mim.  Ao contrário dos rios sazonais tristemente famosos no interior desta terra, por aqui o mais comum são rios perenes. 
A minha Aracaju é banhada pelo rio Sergipe, se bem que o verbo banhar já não se deve aplicar às suas águas.  Devo também citar o rio São Francisco que através de uma centena de metros de canos abastece de águas nossas torneiras.  Há o rio do Sal, o Vasa Barris, o Cotinguiba e o Poxim em cujas águas, com um pouco de boa vontade, ainda é possível a navegação.  Tem mais os canais do Tramandaí, Almirante Tamandaré e Aribé que resistem para não morrerem sufocados na urbanização.  Graças a Deus pelas águas daqui! 
Veja o encontro dos rio Sergipe e Poxim tendo Aracaju ao fundo
A realidade do povo de Israel não era assim.  Eles viviam sempre na ameaça de sucumbirem pelo deserto e não é de se admirar que toda sua idealização de paraíso esteja entremeada de rios e águas correntes.  Penso que foi este ambiente que fez os filhos de Coré cantarem que há um rio cujos canais alegram a cidade de Deus (palavras do Sl 46:4).  No contexto do Salmo em si, depois de afirmar que diante da adversidade, o refúgio seguro e a fortaleza sempre presente é Deus e que por isso nada os abalaria, nem mesmo a fúria das águas turbulentas, então o salmista introduz o tema do rio que alegra a morada do Altíssimo.  Ali há motivos para salmodiar.
Mas gosto demais da expressão em si: há um rio... independente do contexto do Salmo.  Talvez até esteja na alma nordestina, mesmo com todos os adendos já citados.  Gosto da ideia.  Gosto da poesia.  Gosto da sonoridade das palavras.  E parece que elas fluem na minha mente, as repito sempre como uma afirmação de adoração, confiança e esperança.
Um rio cujas águas alegram a cidade de Deus soa para mim como um rio perene (não sazonal) que corre calmo, sereno e tranquilo.  Um rio profundo e majestoso.  Ora, viver junto deste rio é saber que das suas águas poderei beber sempre e ter paz de espírito.  Ainda que a sequidão da alma seja enorme, suas águas cristalinas sempre estarão ao alcance do mais simples copo para dessedentar a alma (é inevitável não associar às palavras de Jesus ditas a mulher samaritana em Jo 4:14).  Por isso há alegria as suas margens.  Até parece que posso ouvir o som sossegado das águas do rio se misturando aos cânticos pelas obras do Senhor e pelos seus feitos estarrecedores na terra.
Na cidade de Deus, na morada do Altíssimo, lá onde Deus está, há um rio cujas águas profundas e calmas trazem paz e saciedade; mas principalmente alegria.  Que me faça o Senhor viver nas suas margens para glória dele.

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